SOBRE O SETEMBRO AMARELO
O mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio. Mas por que falar sobre isso? Qual a necessidade? Não será perigoso? Vamos lá então a algumas ideias sobre o tema.
Diferente dos animais, que nascem prontos para viver, nós humanos nascemos prontos para morrer. É através do desenvolvimento da função materna que somos (na maioria das vezes) convidados à vida: através do amor, da alimentação, do desejo depositado sobre nós. E assim nos propicia o que chamamos de vida, que coexiste junto com a pulsão de morte que nos acompanha desde sempre, e é intrínseco à condição humana.
Assim, quando alguém diz que quer morrer, essa pessoa não está mesmo querendo morrer, simplesmente porque a gente não sabe o que é a morte para querê-la. O que se apresenta como desejo de morrer é o desejo de não existir mais, de se livrar de situações e sentimentos, muitas vezes complexos e bastante conflitantes, que não conseguem outra representação, outro formato por assim dizer.
Falar é um importante caminho para existir. Falar está próximo do desejo de viver, de expressar ideias e sentimentos, da oportunidade de se reconhecer como um sujeito, um ser único.
Não falar sobre suicídio é somente ignorar a angústia de vida, que pode se expressar em palavras e atos de desespero ou contínuos adoecimentos.
A psicoterapia faz um convite à fala. Fazemos terapia para falar, para sermos ouvidos, e para principalmente nos ouvir, ouvir a si mesmo e também o que é desconhecido sobre si.
A fala é um caminho para a “cura”, é através dela que se pode entender suas angústias, lidar com suas questões e até criar ou encontrar outras possibilidades. A possibilidade de fala é uma grande riqueza em situações críticas.
Assim, falar sobre suicídio, ao contrário do que muitos acreditam, não é estímulo ao ato. É estímulo à realidade, à vida, ao reconhecimento e legitimação daquela angústia que diz tanto, no momento através do desejo de morte, que a vida naquele momento e naquelas condições não o convida mais a sentir. E é só na medida em que simbolizamos esse desejo de morte, que ele pode se transformar em desejo de vida…
É através do entendimento que há possibilidades de acolhimento desse sofrimento, e um convite para que ela possa existir através do olhar de outra pessoa pode ser uma rica chance e oportunidade de manejo e de vida, até que um dia, quem sabe, ela mesma encontre esse desejo em si. A busca de um sentido para a vida se faz através da relação com as pessoas da nossa história. Pensar nossos vínculos afetivos é parte desse processo.
A grande importância do setembro amarelo está na oferta de espaço para falarmos disso. E pensar nas potências dos espaços de fala, tanto coletivos como individuais. Porque quando a angústia escoa pela palavra, já foi simbolizada, perdendo a força bruta de antes.
Mas cuidado com as “boas intenções”. Às vezes, a tentativa de animar alguém pode ter efeito contrário e a pessoa se sentir ainda pior e mais inadequada. Então, não aponte. Não julgue. Não ignore. Fale e ouça, acima de tudo ouça, esteja junto e seja uma possibilidade de encarar a realidade.
E recomendemos ajuda profissional a quem precisa!
REGIANE FIORDELISIO – Psicóloga
CRP: 06/38228-6
O sol amarelo
Uma dor
Surge no peito
Um olhar
Sem jeito
Uma vida
Sem efeito
Na alma um mundo
Um buraco profundo
Parece inacessível
Parece invencível
Parece que desistir
É o único futuro
Mas espere um pouco
Respire mais fundo
Inspire mais um pouco
Viva por mais um minuto
E em cada segundo
Registre uma vitória
Tenha esperança
Pegue um lápis
Vamos escrever uma nova história!
Eu sei, a dor é grande
Mas não coloque um ponto final
Deixe um ponto e vírgula
Respire;
Descanse;
Deixe o grito da alma
Sair de seus lábios
Deixe as lágrimas
Correrem em seu rosto
Desafogando o coração
Enquanto rega as flores em vida
Lembre-se, as flores caem.
Mas na raíz está a essência
Que faz a flor renascer
Em outras primaveras
Não desista da planta
Por estar no inverno
Espere.
As estações mudam
E há sempre um jardineiro
Cuidando do jardim
Zelando pelas flores
Que pareciam
Chegar ao fim
Mas era apenas um tempo
Logo mais
Aquele Sol amarelo
Desmancha o gelo do inverno
Trazendo vida para as flores
Refletindo no jardim
Outras cores
Gerando vida
Dissipando temores
Arrancando novos suspiros
Exalando o perfume
Dos novos amores
Que só encontramos na vida
Debaixo do céu
Daquele sol amarelo
No incrível jardim
De vidas e flores
De esperança sem fim
Pois ainda que se vá a flor
Podes fazer da vida
Um lindo jardim!
Autora: Priscila Barbosa da Costa – Psicóloga